LUIZ FRANCO
( 1887-1937 )
Nasceu em Maceió, a 7 de agosto de 1887 e faleceu no Rio de Janeiro em 1937.
Luiz Franco pouco viveu na província de Alagoas. Formando-se em Direito na Faculdade do Rio de Janeiro, aí ergue a sua tenda, onde foi
advogado e delegado de polícia.
Temperamento retraído, escrevia sem alarde, longe das “rodinhas literárias”. Estreou aos 27 anos, com um livro de poesias lírica e parnasianas: “Sol do Trópico”, Tip. do “Jornal do Comércio de Rodrgues & Cia. Rio de Janeiro, 1913.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
NAU
Nau ligeira, encontrar em paragens estranhas
O encanto de outros céus, o clarão de outro sol,
Da terra onde nasci, por vales e montanhas,
Parto à tristonha luz de violáceo arrebol....
Tudo então me contrista.
Dentro em mim se avoluma infinito pesar
E, à terra abandonada a se perder de vista,
Eu lanço, ainda uma vez, meu derradeiro olhar...
A doçura imortal de uma imortal tristeza
Enche-me o peito, o olhar estendo e a triste voz
Que enche os ares escuto; é a voz da natureza
Rudemente a bramir desoladora e atroz;
—“Poeta infeliz, tu que o profundo
Seio abriste ao pesar e vieste achar em mim
Consolador alívio às torpezas do mundo,
Que desejo fatal vai te arrastando assim?
Se tens a alma cativa e se fere teu peito
A tortura minaz de uma horrível paixão
E queres transformar teu delicado aspeito,
E seguro remédio a minha solidão.
Cantando em teus ouvidos
Das folhagens ao vento o soturno rumor,
Podes neles escutar, pelos ares, perdidos,
Sorrisos eternais ou queixumes de dor.
Se, prosseguindo em teu caminho solitário,
Ferir-te por acaso horroroso revés,
procurando conforto ao te cérebro vário,
Novo abrigo em meu seio acharás outra vez...
Quando ao acérrimo bando,
Nada no mundo houver que te possa prender,
As plantas velarão no teu profundo sono
E, em teu sono, ter-me-ás para te proteger.
No tumulto infernal e no estremo degredo,
Lembrar o que perdi muitas vezes me apraz
O silêncio feliz, ó dulçurosa paz!
A ARANHA
Alva teia de aranha,
Entre festões retorcidos ramos,
Se enlaça e se emaranha,
Brilhando, como fúlgidos recamos.
Era apenas um fio,
Sob os frondosos galhos oscilando,
Todo delgado e esguio,
A cimeira das árvores buscando.
Trabalha a aranha na prateada renda
A subir, a descer, urdindo a trama
E pouco falta para que se prenda
Na entrelaçada rama.
Ora subindo, ora descendo, em cada
Folha descansa, o claro urdume tece
E a teia na ramada,
Como um tecido rútilo, aparece.
Refulgindo do sol aos raios de ouro,
Na viridente fronde,
A aranha seu caríssimo tesouro
Entre as ramagens pêndulas esconde.
E, na verde espessura,
Frondosa e basta da folhagem densa,
A teia oscila na elevada altura,
Na alta cimeira flórida suspensa...
Mas, de repente um pássaro ligeiro
Na espessa ramaria
Passa, quebrando o fio derradeiro
Que o tecido nas árvores prendia.
Depois, movendo as asas,
Buscando o claro azul, no azul se perde;
Brilham agora, à luz de um sol de brasas
Restos de urdume entre a folhagem verde...
O humano coração, que a transparente
Teia do sonho quer tecer, trabalha;
Depois de trabalhar constantemente,
Faz a primeira malha...
Os futuros prazeres antegoza,
Nessa luta incessante,
Do sonhos vendo a imagem vaporosa,
Que mais fulgura quanto mais distante.
Trabalha e emprega o mais fecundo esforço,
Esperanças urdindo, uma por uma
E do seu sonho, aos olhos meus, o esforço
Mais a mais se avoluma...
Mas se alguém descuidados,
O tênue fio de esperança corta,
Vê-la-á por terra inanimada e morta!...
*
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Página publicada em junho de 2021
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